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Mulher chefia 5% das grandes empresas

Entre 100 maiores, só 5 têm mulheres na presidência; em novembro de 2009, não havia nenhuma nessa posição no país

No Brasil, onde uma mulher acaba de assumir a Presidência da República, apenas 5 das 100 maiores companhias em receita com vendas têm mulheres na presidência.

O levantamento foi feito pela Folha a partir do ranking "Melhores & Maiores" da revista "Exame" (veja quadro). O número é baixo, mas o cenário era ainda menos favorável às mulheres em 2009, quando não havia nenhuma presidente nas cem maiores companhias.

Hoje, incluindo as empresas "médias-grandes", com faturamento anual bruto entre R$ 90 milhões e R$ 300 milhões, por critérios do BNDES, a situação é similar à dos maiores grupos.

Só 3% das cadeiras de presidentes, em média, ficam com as mulheres, segundo a DMRH, consultoria em recursos humanos, que atende mais de 450 empresas.

Os números da DMRH revelam ainda a dificuldade das funcionárias em ser promovidas, já que a fatia feminina é maior nos cargos mais baixos.

De acordo com a consultoria, 9% dos diretores e vice-presidentes das companhias são mulheres; elas são cerca de 35% dos gerentes e 50% dos trainees e analistas.

 

EXTERIOR

Nos EUA, a ocupação dos cargos é menos desigual nos níveis até diretoria, mas a presença feminina na presidência das grandes corporações segue baixa: 3%, de acordo com o Conselho das Mulheres Líderes Mundiais.

A DMRH afirma que, em muitos casos, as mulheres acabam desistindo dos postos mais altos por dificuldade em conciliar agenda profissional e vida pessoal.

Mas pesquisadores discutem as motivações e o significado desse tipo de "opção da mulher".

"Muitas mulheres acabam, sim, optando pela vida pessoal em detrimento da profissional porque não têm suporte das empresas para conciliar suas demandas", diz Regina Madalozzo, pesquisadora do Insper.

Algumas poucas companhias têm políticas para retenção de mulheres na liderança -geralmente, grupos cujo negócio está mais voltado ao público feminino.

No Brasil, Natura e Unilever oferecem possibilidade de jornada flexível. E há berçário em algumas unidades, além de auxílio-creche.

"Cada vez mais o grande desafio é equilibrar características femininas e masculinas no quadro de funcionários", diz Marcelo Cardoso, vice-presidente de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade da Natura.

 

Conselhos dão menos chances às mulheres

Em empresas que possuem conselho de administração -órgão que aprova decisões estratégicas da companhia, como a nomeação do presidente-executivo (CEO, na sigla em inglês)-, mulheres têm menos chances de chegar ao topo.

É o que mostra um estudo do Insper com 153 empresas listadas na Bolsa brasileira, que investigou variáveis que poderiam interferir na promoção de executivas a CEO.

Foram considerados faturamento, número de funcionários, lucratividade e estrutura da companhia, por exemplo. E o levantamento concluiu que a existência de um conselho administrativo reduz em 12% as chances de o CEO ser uma mulher.

"Nenhuma das outras variáveis tinha qualquer impacto na equação de probabilidade que montamos", diz Regina Madalozzo, professora e pesquisadora do Insper.

Das empresas avaliadas, 64% tinham conselho de administração. E, dessas, apenas 5,6% tinham uma mulher como CEO.

Já nas companhias sem conselho, a presença feminina na presidência-executiva ficou em 12,3%.

O levantamento mostrou ainda que, nos próprios conselhos, a participação feminina é baixa.

Das empresas avaliadas, 42,5% não tinham nenhuma mulher conselheira; 22,9% tinham apenas uma. E somente 1,31%, seis mulheres.

Em média, a presença feminina nos conselhos fica em 8,9% no Brasil. Nos EUA, 14,8%.

De acordo com a pesquisadora do Insper, o cenário só muda de forma significativa em países em que a lei passou a exigir mais presença feminina.

Na Noruega, é obrigatório, desde 2008, que 40% dos conselhos de administração sejam compostos por mulheres. Na Espanha, foi aprovada uma lei semelhante, com a mesma cota, mas só entra em vigor em 2015.

QUALIFICAÇÃO

"O problema, mesmo com essa exigência, é que as mulheres chamadas a participar dos conselhos não necessariamente são as melhores executivas, mais aptas a julgar", diz Madalozzo. "Assim, acabam acompanhando a decisão da maioria, composta por homens."

Mas a pesquisadora não acredita que a tendência dos conselhos de não nomear mulheres para presidência-executiva reflita "preconceito assumido".

"Creio que seja uma questão de mais afinidade com as características masculinas de liderança do que com as femininas", diz.

(CM)

 

ANÁLISE

Por que as mulheres (ainda) não alcançam altos cargos

CARLOS ARRUDA

MARINA ARAÚJO

 

O que o ambiente corporativo espera de um executivo? Orientação para tarefa e execução, entrega de resultados, grande dedicação à sua carreira. E para qual gênero você atribui essas características? Aos homens? No mundo corporativo, muitas das funções foram construídas pelos homens e, consequentemente, para eles. E nesse fato estão alguns dos motivos pelos quais as mulheres (ainda) não alcançaram altos cargos.

Realizamos um estudo com mulheres em diferentes cargos e faixas etárias sobre expectativas e dificuldades para o crescimento profissional e observamos que, em muitos casos, são as próprias mulheres que optam por não entrar no jogo corporativo.

Quando elas se deparam com conflitos entre família, relacionamentos e carreira, a maioria delas prefere buscar um equilíbrio entre as diversas esferas da vida -algo não muito comum entre homens.

Para chegar a altos cargos, tanto mulheres quanto homens precisaram abrir mão de alguns desejos pessoais.

Com o mundo e as relações de gênero num processo continuo de transformação, podemos avistar novos moldes organizacionais.

Acreditamos que o sucesso de um novo formato organizacional pode estar justamente no equilíbrio entre as características ditas masculinas e femininas.

 


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