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Setor de tecnologia perde R$ 3,3 bilhões em valor de mercado com juros mais altos

Segundo levantamento exclusivo da Economatica, empresas de tecnologia amargam perdas de 2,5% no ano

As empresas de tecnologia com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, já perderam R$ 3,3 bilhões em valor de mercado neste ano, segundo levantamento exclusivo feito pela consultoria Economatica, a pedido do CNN Brasil Bunsiness. O grupo formado por 17 companhias encolheu 2,5% entre 3 de janeiro e 2 de fevereiro.

A primeira versão desta reportagem indicava perda de valor de mercado de R$ 3,3 milhões, mas a informação foi corrigida. O correto é R$ 3,3 bilhões.

Enquanto o Ibovespa começou 2022 batendo recordes consecutivos, aos 113 mil pontos, muitas dessas empresas de tech veem o valor dos papeis derreter. Apesar de o Brasil não ter um índice voltado à tecnologia, como a Nasdaq, nos Estados Unidos, o mercado doméstico tem um ETF (fundo de índice) focado em empresas brasileiras do setor, o TECB11. E, desde sua estreia na B3, em 4 de outubro, até terça-feira (2), o fundo caiu cerca de 38%.

Especialistas entrevistados pelo CNN Brasil Business atribuem o resultado à alta na taxa de juros. O Copom (Comitê de Política Monetária) elevou na quarta-feira (2) – em sua primeira reunião do ano – a taxa Selic para 10,75% a.a., um crescimento de 1,5 ponto percentual.

O impacto da Selic na conta das empresas de tecnologia se deve ao fato de o setor ser conhecido por recorrer a crédito para financiar o crescimento. Roberto Attuch, fundador e CEO da Omninvest, diz que “com a taxa de juros mais alta, o crédito fica mais caro, o que atrapalha o crescimento dessas companhias”.

Existem dois modelos de financiamento: pegar crédito no banco ou receber aporte de um investidor anjo ou private equity (PV).

Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, explica que “se as companhias decidirem pegar crédito, o banco vai falar que o ‘custo Brasil’ para tal operação é de cerca de 11%, ou seja, as empresas vão precisar dar uma rentabilidade maior para cobrir o gasto”. Assim, quanto maior a Selic, mais caro fica o custo do crédito.

“Se optarem pelo investidor anjo ou PV, os financiadores vão querer um investimento acima da taxa básica de juros, o que significa que o custo dinheiro também fica mais caro”.

Outro ponto que prejudica o setor, segundo os especialistas, é o balanço focado no futuro. Franchini diz que o mercado costuma antecipar o lucro em até dez anos dessas companhias.

“E, durante a pandemia, enquanto diversos setores tiveram que se reajustar à crise, o setor de tecnologia se mostrou resiliente, pois, foi necessária uma digitalização do cotidiano para que as companhias conseguissem seguir com suas operações”.

Ele afirma que o isolamento social ajudou que algumas empresas tivessem mais caixa, gerando maior crescimento e investimento. “O que elas não teriam em outras oportunidades”.

Porém, com a retomada do trabalho presencial, segundo o especialista, os acionistas começaram a migrar para outros investimentos, “como a renda fixa, diante da alta dos juros, vendendo seus papéis de tecnologia”.

“No final, os investidores precisaram refazer seu cálculo de reprecificação dos papéis, pois o fim do isolamento vai impactar no caixa futuro, assim como o custo mais caro do crédito – que atrapalha no crescimento das companhias -, deixando as empresas do setor menos atraentes aos acionistas”, afirma o sócio da Monte Bravo.

O levantamento realizado pela Economatica mostra o desempenho das 17 companhias do setor de tecnologia na B3:

Movimento parecido nos EUA

Cenário semelhante também tem assustado os acionistas de tecnologia na bolsa de Wall Street. O Fed (Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos), em 26 de janeiro, informou que irá manter os juros no intervalo entre 0% e 0,25%, mas declarou que espera ter as condições necessárias para elevar as taxas “em breve”.

“Diferentemente do que foi ano passado, quando as ações do setor subiram com a injeção de liquidez do Fed (cerca de US$ 120 bilhões por mês) e os juros baixos, a previsão de alta tem afetado as companhias de tecnologia que não são tão consolidadas no mercado e são conhecidas como ‘promissoras’”, diz o fundador e CEO da Omninvest.

Assim como no Brasil, os juros também impactam no caixa futuro e no acesso ao crédito pelas companhias.

“E, além disso, com caixa deteriorado, os dividendos que elas oferecem aos seus acionistas também acaba por ser reduzido”, explica Attuch.

Segundo o especialista, com os proventos reduzidos, o investidor opta por vender seus papéis, o que acaba tombando o principal índice de tecnologia nos EUA. Desde o primeiro pregão do ano, o Nasdaq já recuou quase 10%.

Vale lembrar que o presidente do Fed, Jerome Powell, em coletiva de imprensa, indicou que a primeira alta de juros deve ocorrer em março, “caso as condições sejam apropriadas”.

Aumento semanal

Nesta semana, porém, os balanços financeiros das companhias de tecnologia mais consolidadas têm dado um fôlego para os três principais índices de Wall Street.

Na quarta-feira (2), o S&P 500 fechou em alta de 0,94%, a 4.589,38 pontos, Dow Jones subiu 0,63%, a 35.629,33 pontos e o Nasdaq avançou 0,5%, a 14.417,55 pontos.

Franchini e Attuch afirmam que os bons resultados das empresas foi devido a um processo de digitalização no dia a dia das pessoas.

“O isolamento social e a pandemia obrigaram a compra de aparelhos tecnológicos; e hoje, quem não tem estratégia digital, praticamente não existe”, declara o fundador e CEO da Omninvest

A Advanced Micro Devices, empresa fabricante de circuitos integrados, teve um aumento de 68% nas receitas se comparado com 2020. Enquanto a dona do Google, a Alphabet, teve uma receita anual recorde, de US$ 258 bilhões.

*Com Reuters

ERRAMOS: Diferentemente do informado inicialmente, a perda do valor de mercado das empresas de tecnologia negociadas na B3 neste ano é de R$ 3,3 bilhões e não de R$ 3,3 milhões. A informação foi corrigida.


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